Friday, June 3, 2016

Existem presos políticos na Venezuela?

Especialistas asseguram que há vários políticos que estão presos por delitos comuns.
           
Ernesto J. Navarro

Internacionalmente, aceita-se que um preso político é qualquer pessoa encarcerada, porque suas ideias supõem uma ameaça para o sistema político estabelecido, independentemente de sua natureza, aponta o analista político Alí Rojas Olaya.
No caso venezuelano, o governo faz uma diferenciação ao falar de "políticos presos".
Os partidos de oposição, ainda que não estejam de acordo sobre as cifras, falam da existência de, ao menos, 70 presos políticos. Leopoldo López é o mais emblemático dos incluídos nesta cifra, graças a uma campanha internacional que pede sua liberdade.

A sentença de López

A 10 de setembro de 2015, López foi sentenciado por um tribunal venezuelano a 13 anos, 9 meses, 7 dias e 12 horas de prisão; assinalado como responsável pela comissão dos crimes de incêndio intencional, instigação pública, danos à propriedade pública e associação para delinquir.
Pouco mais de um ano antes, o governo venezuelano, de acordo com o próprio presidente Nicolás Maduro, negociou com a família López a entrega à justiça do líder do ultradireitista partido Voluntad Popular, depois de lhe serem apresentadas evidências de que setores da mesma oposição planejavam assassiná-lo em Caracas.
Leopoldo López, recordemos, encabeçou um plano denominado 'La Salida' que pretendia − e pretende − derrubar o governo do presidente Maduro.
A justiça venezuelana, por meio de seus representantes deu explicações em várias ocasiões sobre este tema. Consultada sobre o caso de Leopoldo López, a Promotora Geral da República, Luisa Ortega Díaz, disse que ele e outros presos são réus por "delitos comuns" estabelecidos no Código Penal e não por suas posturas políticas.

O malefício interrompido

O advogado constitucionalista Enrique Tineo é taxativo quando consultado sobre os presos políticos venezuelanos, "verdadeiramente não existem".
Lembrou que este país tinha uma longa tradição histórica de presos políticos mas "esse malefício sfoi interrompido com a ascensão ao poder de Hugo Chávez Frias. Pela primeira vez, um governo estabelece um acordo para o adversário político que não procura esmagá-lo ou fazê-lo desaparecer. O que se passa é que a manipulação mediática pretende criar essa figura".
Para explicar porque Leopoldo López, diferentemente do restante dos chamados "presos políticos" da oposição, recebe todos os apoios, Tineo assegura: "deve-se entender que ele se alça a partir de um projeto político da classe empresarial, que sempre lançou candidatos à presidência na Venezuela, ainda que essa estratégia de colocar empresários como candidatos ao governo nunca tenha dado resultados".

Campanha internacional

Essas acusações fazem parte de uma campanha internacional extraordinária contra o país, assegurou Diosdado Cabello, deputado e primeiro vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
Agora bem, "imagine se alguém nos Estados Unidos tivesse feito o que Leopoldo López fez (na Venezuela), seria preso e até condenado à pena de morte, porém pretendem nos mostrar como os maus (…), nos acusaram de muitas coisas sem provas (…)".
Referindo-se aos presos, alegados pela oposição, acrescentou, "todos os que estão presos pelos assassinatos de 43 pessoas e mais de 800 feridos, continuarão presos, incluído Leopoldo López".

Propaganda da direita espanhola

Como parte dos apoios internacionais recebidos por Leopoldo López, o ex-candidato à presidência do governo da Espanha e presidente do partido Ciudadanos, Albert Rivera, chegou à Venezuela, convidado pela maioria opositora na Assembleia Nacional.
Rivera, considerado "amigo" da oposição venezuelana, exibiu a bandeira deste país sul-americano no dia do encerramento de sua campanha eleitoral e foi o encarregado de apoiar uma moção a favor da libertação dos "presos políticos" na Venezuela.
Como parte de sua agenda em Caracas, anuncia-se que Rivera, preocupado pela situação de "crise" na Venezuela, visitou Leopoldo López na prisão de Ramo Verde, localizada a 33 quilômetros a sudoeste de Caracas.
Pablo Iglesias, líder do partido Podemos, disse: "dá a impressão que o Ciudadanos vai gastar um pouquinho mais de dinheiro em seu vídeo de campanha, que vai rodá-lo em Caracas e que não vai falar nem da Espanha, nem dos espanhóis", segundo o jornal venezuelano El Nacional.
A visita de Rivera à capital venezuelana não deixa de causar suspeitas. Piky Figueroa, cantor do grupo Bituaya aponta: "é estranho que este senhor (Rivera) venha ao nosso país para pedir a liberdade de López, enquanto em seu país existem inclusive músicos condenados à prisão por cantar e fazer uso de sua liberdade de expressão" disse, referindo-se ao caso do rapper Pablo Hásel.

Traduzido por V. Cione do site RT 

Fonte: https://actualidad.rt.com/actualidad/208327-presos-politicos-venezuela