Monday, January 20, 2014

Genebra II, uma conferência sumamente polarizada?



   Por Manuel Vázquez*

Damasco (Prensa Latina) Ao invés do buscado pelos chamados grupos opositores armados e seus patrocinadores, principalmente Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia e Catar, a atual guerra na Síria poderia ter gerado na população do país um maior apoio ao presidente Bashar al-Assad.
Um fator determinante nessa realidade é a marcada rejeição popular aos constantes crimes contra os cidadãos cometidos pelos extremistas islâmicos opostos ao governo, incluídos milhares de estrangeiros de 83 países, principalmente tunisinos, líbios, iraquianos, palestinos, sauditas, libaneses e egípcios.

E ao invés do consenso internacional com respeito à crise síria, que descarta a possibilidade de uma desvinculação por meios bélicos, vários damascenos consultados pela Prensa Latina consideram muito provável a necessidade das armas para terminar a guerra.

Além disso, o sentimento preponderante em frente à vindoura conferência de paz Genebra II entre sírios de diversas orientações religiosas ou origem étnica, é que qualquer solução ao conflito deve ser puramente nacional, sem ingerência estrangeira.

O pensamento comum é que as dezenas de milhares de extremistas islâmicos que atuam no país (boa parte deles vinculados à rede Al-Qaeda) têm como propósito explícito estabelecer um califado islâmico regido pela xária em toda a região.

Para esses grupos armados, o quanto se discuta ou estabeleça na Genebra II não representa nada, fato que leva aos sírios se perguntarem: Se com os jihadistas não se pode dialogar, como expulsá-los do país se não derrotando-os militarmente?

Por isso Damasco insiste que, na Genebra II, um tema clave deve ser o freio ao apoio externo aos grupos terroristas, sem o qual se supõe que minguariam suas capacidades militares.

Junto a esse ponto, na Suíça se abririam as portas ao diálogo entre o governo e a oposição, na qual se incluem partidos políticos organizados dentro da Síria, bem como outros agrupamentos com base fora do país, entre as quais predominam os desencontros sobre uma vontade comum.

Por enquanto, dentro da Síria muitos grupos políticos já manifestaram publicamente suas posições.

Os representantes das tribos nacionais (estrutura social tradicional constituída por milhares de famílias, principalmente nas zonas rurais) afirmaram publicamente que seus representantes estão dentro do país, e aqueles que se encontram no estrangeiro não têm direito de falar em nome destas ou dos sírios no geral.

Segundo uma recente declaração, os chefes de clãs concedem à delegação formada pelo governo para a Genebra II todo o direito e o mandato popular de representá-los.

Os sírios, manifestam, são os únicos capazes de encontrar uma solução à crise que atravessa o país, sem ingerência externa.

Representantes de 11 partidos reunidos neste janeiro, na cidade de Latakia, coincidiram em recusar projetos impostos por outros países.

Nessa reunião, o ministro de Estado para Assuntos de Reconciliação Nacional, Ali Haidar, deixou claro que apesar de que Genebra poderia ser uma oportunidade para pôr fim ao conflito, a sociedade síria não deve depender de nenhum processo político gestado no exterior.

Anteriormente, o ministro de Informação sírio, Omran al-Zougbi, ratificou a posição de Damasco de que qualquer ação ou acordo a que se chegue na Genebra II só terá valor se for aprovado pelo povo em referendo.

Não obstante, ainda que na Síria poderia existir no futuro um governo amplo, alertou, nunca seria um órgão governamental de transição, tal como ocorreu no Iraque após a última invasão dos Estados Unidos.

E com relação ao principal ponto de discórdia: enquanto os opositores externos, bem como seus patrocinadores, fazem questão da retirada do presidente Bashar al-Assad, al-Zougbi assegurou que atualmente existe no país uma vontade popular a favor de que ele se declare como candidato presidencial para as eleições de 2014.

De fato, analistas locais estimam que nesse caso, o atual presidente triunfaria nas urnas sem problemas.

Assim, tudo indica que na Genebra II serão apresentados a ambos os lados da mesa de negociações posições antagônicas muito difíceis de serem harmonizadas, o que leva ao ceticismo sobre o possível sucesso dessa complexa reunião.

*Correspondente da Prensa Latina na Síria.




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