por Eric Draitser, traduzido por Vinicius C. para o Batalha de Ideias.
Há uma agitação atual no Baluquistão sobre desaparecimentos forçados, sequestros, assassinatos seletivos assassinatos e terrorismo. No entanto, estas são apenas táticas de uma guerra muito mais ampla, mais complexa em termos geopolíticos em que os Estados Unidos e seus aliados ocidentais estão engajados. Aparentemente insignificante diante do cenário de todas as crises regionais e internacionais que afetam o nosso mundo, o Baluquistão é, de fato, um nexo: o ponto em que interesses estratégicos diametralmente opostos convergem.
Os Estados Unidos vê o Baluquistão, uma área que abrange o oeste do Paquistão, o leste do Irã e uma parte do sul do Afeganistão, como crucial para a manutenção de sua hegemonia no Oriente Médio e na Ásia Central e do Sul. Por outro lado, a China considera a região como necessária para sua própria evolução econômica e política numa superpotência mundial. Visto dessa forma, o Baluquistão torna-se fundamental para o desenvolvimento do poder geopolítico no século XXI.
Localização estratégica do Baluquistão
O Baluquistão está localizado em um dos lugares mais geográfica e politicamente significativos do mundo. Não só a região está situada entre três países que se tornaram centrais para a projeção política e militar do poder ocidental, mas é central também para o desenvolvimento e exportação de energia da Ásia Central, o acesso ao Oceano Índico e uma série de outros imperativos geopolíticos tanto para o Ocidente quanto para os países da SCO e os BRICS. Devido a isso, a região tem crescido exponencialmente em importância para todos os grandes poderes do mundo.
Ainda que a terra, na superfície, pareça ser inóspita, detém uma grande riqueza logo abaixo do solo. Além do que se acredita ser uma grande quantidade de gás natural e / ou petróleo, a terra sob os pés dos baluquis contém vastas quantidades de minerais para o desenvolvimento econômico. Devido a isso, o conflito que ocorre na região assume a dimensão de uma guerra de recursos, além de uma geográfica e política.
A localização do Baluquistão tem outro elemento crucial que o torna geopoliticamente necessário: ele está no cruzamento das mais importantes rotas comerciais entre o Ocidente e o Oriente. Embora, na mente do público, uma rota de comércio pareça ser coisa do passado (alguém poderia imaginar a Rota da Seda sendo percorrida por camelo), de fato, elas são essenciais para o desenvolvimento. O comércio terrestre, algo que o chinês compreende ser um pilar de sua evolução econômica e política em uma superpotência, é impossível sem um Baluquistão estável e confiável, e isso é precisamente o que os Estados Unidos e o Ocidente buscam evitar.
Esse foco nos acessos terrestres ao comércio deve sempre ser visto no contexto da energia. A insaciável sede da China por petróleo e gás natural torna o desenvolvimento de oleodutos e gasodutos na Ásia Central, Irã e em outros lugares inestimável para eles. O gasoduto Irã-Paquistão, o gasoduto Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia (TAPI) e outros projetos servem para aumentar a importância do Baluquistão, aos olhos dos chineses. Além disso, o Porto Gwadar no Paquistão, financiado pela China, é o ponto de acesso para o transporte comercial chinês para o Oceano Índico e para a África. Com tudo isso como pano de fundo, pode-se começar a ver porque o Baluquistão é tão significativo para os chineses e, inversamente, porque os Estados Unidos e seus fantoches ocidentais procuram desestabilizá-lo.
Subversão ocidental e desestabilização
As potências imperialistas ocidentais têm o evidente interesse em conter o surgimento de um Baluquistão estável. Não só porque a região é essencial para a China, trata-se também de uma parte significativa da guerra secreta travada contra o Irã e o Paquistão. Os grupos terroristas com links diretos e indiretos com as agências de inteligência ocidentais operam impunemente no Baluquistão, uma vasta área que é quase impossível de ser monitorada. O governo paquistanês não é alheio ao fato de que agências de inteligência estrangeiras estão por trás de grande parte da violência no Baluquistão, um fato que foi afirmado publicamente até pelo ex-presidente Musharraf. Com efeito, embora Islamabad saiba que publicamente não é possível afirmá-lo, está ciente de que sua sobrevivência está em reprimir os distúrbios no Baluquistão, o que, por sua vez, significa que deve realmente combater o separatismo controlado de fora.
Num artigo publicado pelo jornal catariano de língua inglesa The Peninsula, o autor citou fontes críveis alegando que "a CIA está recorrendo ao recrutamento intenso da população local como agentes (cada um deles recebendo US$500 por mês)." Além disso, sabemos que a CIA, sob a liderança do general Petraeus, tem-se utilizado de refugiados afegãos para desestabilizar o Baluquistão. O significado destas revelações não deve ser subestimado. O fato de que a CIA esteja recrutando agentes e informantes por todo o Baluquistão indica que a estratégia dos EEUU de subversão é multifacetada. Por um lado, uma rede de agentes permite a manipulação de dados e informações, enquanto, por outro, os Estados Unidos se engajam no terrorismo através de uma variedade de grupos terroristas que controla ou manipula direta ou indiretamente. Conforme relatado na revista Foreign Policy, a CIA e o Mossad competem para controlar Jundallah, um fato importante, pois revela que os imperialistas ocidentais usam a base de Jundallah no Baluquistão para travar uma guerra coberta contra o Irã, incluindo o assassinato de cientistas, atentados terroristas com bomba destinados a causar sérios danos à infraestrutura e assassinatos seletivos de minorias étnicas.
Além da Jundallah, a CIA e os seus homólogos (MI6, Mossad, e a RAW da Índia) estão envolvidos ativamente no treinamento e na manipulação de vários grupos terroristas que operam no Baluquistão. O Exército de Libertação Baluqui, liderado por Brahamdagh Bugti entre outros, tem laços de longa data com o MI6 britânico desde os primeiros dias da independência do Paquistão. Este grupo é responsável por inúmeras ações terroristas na região, todas elas dirigidas contra civis inocentes. Este, e outros grupos semelhantes, ilustra a maneira como os Estados Unidos e seus aliados usam a arma do terrorismo para criar o caos com o objetivo de desestabilizar o Baluquistão, impedindo também o desenvolvimento econômico para o povo baluqui e, consequentemente, para a China.
Sabotagem política
As táticas de subversão não se limitam ao terrorismo e espionagem no Baluquistão. Uma das dimensões mais críticas deste problema é o uso da desestabilização política através do Congresso dos EEUU. Legisladores como o representante Dana Rohrbacher (R-CA), quem pessoalmente conduziu a acusação anti-Paquistão, defendeu ativamente o "direito de autodeterminação do povo do Baluquistão". É evidente que ele, e outros diretamente interessados no assunto, apoiam o separatismo e o a destruição do Paquistão moderno. Ao defendê-lo, Rohrbacher e outros membros do Congresso agem, como sempre fizeram, como apologistas e facilitadores da estratégia imperial dos EEUU em dividir as nações, a fim de controlá-las. Rohrbacher, ele mesmo com uma longa ligação com combatentes da Al-Qaeda (ex-mujahideen), é um defensor feroz de uma forte agenda anti-Paquistão, tratando o país como uma ameaça aos Estados Unidos. Naturalmente, a única ameaça que o Paquistão realmente representa é que, no curso do desenvolvimento da China, decidiu estar do lado de desenvolvimento econômico, em vez de deixar-se perpetuamente subjugado à vontade dos Estados Unidos.
A resolução apresentada por Rohrbacher, que é presidente da Subcomissão da Câmara de Relações Exteriores para Supervisão e Investigações, solicitou aos EEUU que apoiem o separatismo baluqui e ponham fim às relações com o governo eleito democraticamente de Islamabad. Ele tem repetidamente lançado ameaças e outras provocações, as quais foram corretamente interpretadas pelo governo paquistanês como intromissão em seus assuntos internos. O objetivo dessas resoluções e provocações tem sido projetar, tanto politicamente quanto para a opinião pública, o Paquistão como Estado terrorista, o que, em virtude da lógica distorcida apresentada à população estadunidense, significa que os EEUU devem ser capazes de fazer o que quiser para eles.
Os objetivos dos imperialistas ocidentais vis-à-vis o Baluquistão têm sido, e continuam sendo, muito simples: desestabilizar a região, a fim de bloquear a China de usá-la para fazer valer seu domínio regional e continuar a promoção de seu desenvolvimento econômico. Usando as mesmas repetidas táticas de terrorismo e subversão política, eles esperam atingir esses objetivos. No entanto, diferentemente do caso da classe dominante imperialista britânica de um século atrás, os Estados Unidos precisam lidar com um Paquistão, que mantém uma forte corrente de nacionalismo, o qual rejeita a hegemonia dos Estados Unidos na região, e que tem amigos internacionalmente. Infelizmente para o povo baluqui, a classe dominante dos EEUU não aprenderam nada da história e continua a usá-lo como peões contra seu inimigo percebido em Pequim. Sem um governo forte, nacionalista em Islamabad, disposto a fazer mais do que apenas protestos formais contra as ações dos EEUU, não haverá paz no Baluquistão. Em vez disso, a situação só vai se deteriorar enquanto as oligarquias estadunidenses continuam sua busca por uma posição dominante no século 21, independentemente se o custo exigido for humano ou financeiro.
o original em inglês está em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=31703
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