Thursday, July 26, 2012

VIVA O 26 DE JULHO!!




No dia 26 de julho de 1956, começava um dos acontecimentos que mudaria o curso da história no hemisfério ocidental. Acontecimento que, como mais tarde seria expresso, faria com que "agora sim, a história tivesse de contar com os pobres da América". Fidel Castro Ruz liderava o ataque aos quartéis Moncada e Carlos Manuel de Céspedes, considerado o início da segunda independência cubana, a revolução socialista.

A equipe do Batalha de Ideias reafirma a solidariedade ao povo cubano e a sua revolução, sustentada e desenvolvida por mais de meio século em meio à mais cruenta luta contra o imperialismo mundial e seu cérebro, os Estados Unidos.

Consideramos, ademais, que neste momento de crise terminal do capitalismo, a Batalha das Ideias, que se intensifica a cada dia, deve necessariamente passar, por parte de qualquer militante progressista do mundo, pela defesa incondicional da revolução cubana e do socialismo.

Viva o 26 de Julho!
Vivam Fidel e Raúl Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos!
Vivam as lutas dos povos da América Latina pela segunda independência, a revolução socialista!

A Equipe do "Batalha de Ideias".

Tuesday, July 24, 2012

[GEOPOLÍTICA] Baluquistão: Encruzilhada de mais uma guerra estadunidense?



por Eric Draitser, traduzido por Vinicius C. para o Batalha de Ideias.

Há uma agitação atual no Baluquistão sobre desaparecimentos forçados, sequestros, assassinatos seletivos assassinatos e terrorismo. No entanto, estas são apenas táticas de uma guerra muito mais ampla, mais complexa em termos geopolíticos em que os Estados Unidos e seus aliados ocidentais estão engajados. Aparentemente insignificante diante do cenário de todas as crises regionais e internacionais que afetam o nosso mundo, o Baluquistão é, de fato, um nexo: o ponto em que interesses estratégicos diametralmente opostos convergem.

Os Estados Unidos vê o Baluquistão, uma área que abrange o oeste do Paquistão, o leste do Irã e uma parte do sul do Afeganistão, como crucial para a manutenção de sua hegemonia no Oriente Médio e na Ásia Central e do Sul. Por outro lado, a China considera a região como necessária para sua própria evolução econômica e política numa superpotência mundial. Visto dessa forma, o Baluquistão torna-se fundamental para o desenvolvimento do poder geopolítico no século XXI.

Localização estratégica do Baluquistão

O Baluquistão está localizado em um dos lugares mais geográfica e politicamente significativos do mundo. Não só a região está situada entre três países que se tornaram centrais para a projeção política e militar do poder ocidental, mas é central também para o desenvolvimento e exportação de energia da Ásia Central, o acesso ao Oceano Índico e uma série de outros imperativos geopolíticos tanto para o Ocidente quanto para os países da SCO e os BRICS. Devido a isso, a região tem crescido exponencialmente em importância para todos os grandes poderes do mundo.
Ainda que a terra, na superfície, pareça ser inóspita, detém uma grande riqueza logo abaixo do solo. Além do que se acredita ser uma grande quantidade de gás natural e / ou petróleo, a terra sob os pés dos baluquis contém vastas quantidades de minerais para o desenvolvimento econômico. Devido a isso, o conflito que ocorre na região assume a dimensão de uma guerra de recursos, além de uma geográfica e política.
A localização do Baluquistão tem outro elemento crucial que o torna geopoliticamente necessário: ele está no cruzamento das mais importantes rotas comerciais entre o Ocidente e o Oriente. Embora, na mente do público, uma rota de comércio pareça ser coisa do passado (alguém poderia imaginar a Rota da Seda sendo percorrida por camelo), de fato, elas são essenciais para o desenvolvimento. O comércio terrestre, algo que o chinês compreende ser um pilar de sua evolução econômica e política em uma superpotência, é impossível sem um Baluquistão estável e confiável, e isso é precisamente o que os Estados Unidos e o Ocidente buscam evitar.
Esse foco nos acessos terrestres ao comércio deve sempre ser visto no contexto da energia. A insaciável sede da China por petróleo e gás natural torna o desenvolvimento de oleodutos e gasodutos na Ásia Central, Irã e em outros lugares inestimável para eles. O gasoduto Irã-Paquistão, o gasoduto Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia (TAPI) e outros projetos servem para aumentar a importância do Baluquistão, aos olhos dos chineses. Além disso, o Porto Gwadar no Paquistão, financiado pela China, é o ponto de acesso para o transporte comercial chinês para o Oceano Índico e para a África. Com tudo isso como pano de fundo, pode-se começar a ver porque o Baluquistão é tão significativo para os chineses e, inversamente, porque os Estados Unidos e seus fantoches ocidentais procuram desestabilizá-lo.

Subversão ocidental e desestabilização

As potências imperialistas ocidentais têm o evidente interesse em conter o surgimento de um Baluquistão estável. Não só porque a região é essencial para a China, trata-se também de uma parte significativa da guerra secreta travada contra o Irã e o Paquistão. Os grupos terroristas com links diretos e indiretos com as agências de inteligência ocidentais operam impunemente no Baluquistão, uma vasta área que é quase impossível de ser monitorada. O governo paquistanês não é alheio ao fato de que agências de inteligência estrangeiras estão por trás de grande parte da violência no Baluquistão, um fato que foi afirmado publicamente até pelo ex-presidente Musharraf. Com efeito, embora Islamabad saiba que publicamente não é possível afirmá-lo, está ciente de que sua sobrevivência está em reprimir os distúrbios no Baluquistão, o que, por sua vez, significa que deve realmente combater o separatismo controlado de fora.
Num artigo publicado pelo jornal catariano de língua inglesa The Peninsula, o autor citou fontes críveis alegando que "a CIA está recorrendo ao recrutamento intenso da população local como agentes (cada um deles recebendo US$500 por mês)." Além disso, sabemos que a CIA, sob a liderança do general Petraeus, tem-se utilizado de refugiados afegãos para desestabilizar o Baluquistão. O significado destas revelações não deve ser subestimado. O fato de que a CIA esteja recrutando agentes e informantes por todo o Baluquistão indica que a estratégia dos EEUU de subversão é multifacetada. Por um lado, uma rede de agentes permite a manipulação de dados e informações, enquanto, por outro, os Estados Unidos se engajam no terrorismo através de uma variedade de grupos terroristas que controla ou manipula direta ou indiretamente. Conforme relatado na revista Foreign Policy, a CIA e o Mossad competem para controlar Jundallah, um fato importante, pois revela que os imperialistas ocidentais usam a base de Jundallah no Baluquistão para travar uma guerra coberta contra o Irã, incluindo o assassinato de cientistas, atentados terroristas com bomba destinados a causar sérios danos à infraestrutura e assassinatos seletivos de minorias étnicas.
Além da Jundallah, a CIA e os seus homólogos (MI6, Mossad, e a RAW da Índia) estão envolvidos ativamente no treinamento e na manipulação de vários grupos terroristas que operam no Baluquistão. O Exército de Libertação Baluqui, liderado por Brahamdagh Bugti entre outros, tem laços de longa data com o MI6 britânico desde os primeiros dias da independência do Paquistão. Este grupo é responsável por inúmeras ações terroristas na região, todas elas dirigidas contra civis inocentes. Este, e outros grupos semelhantes, ilustra a maneira como os Estados Unidos e seus aliados usam a arma do terrorismo para criar o caos com o objetivo de desestabilizar o Baluquistão, impedindo também o desenvolvimento econômico para o povo baluqui e, consequentemente, para a China.

Sabotagem política

As táticas de subversão não se limitam ao terrorismo e espionagem no Baluquistão. Uma das dimensões mais críticas deste problema é o uso da desestabilização política através do Congresso dos EEUU. Legisladores como o representante Dana Rohrbacher (R-CA), quem pessoalmente conduziu a acusação anti-Paquistão, defendeu ativamente o "direito de autodeterminação do povo do Baluquistão". É evidente que ele, e outros diretamente interessados no assunto, apoiam o separatismo e o a destruição do Paquistão moderno. Ao defendê-lo, Rohrbacher e outros membros do Congresso agem, como sempre fizeram, como apologistas e facilitadores da estratégia imperial dos EEUU em dividir as nações, a fim de controlá-las. Rohrbacher, ele mesmo com uma longa ligação com combatentes da Al-Qaeda (ex-mujahideen), é um defensor feroz de uma forte agenda anti-Paquistão, tratando o país como uma ameaça aos Estados Unidos. Naturalmente, a única ameaça que o Paquistão realmente representa é que, no curso do desenvolvimento da China, decidiu estar do lado de desenvolvimento econômico, em vez de deixar-se perpetuamente subjugado à vontade dos Estados Unidos.
A resolução apresentada por Rohrbacher, que é presidente da Subcomissão da Câmara de Relações Exteriores para Supervisão e Investigações, solicitou aos EEUU que apoiem o separatismo baluqui e ponham fim às relações com o governo eleito democraticamente de Islamabad. Ele tem repetidamente lançado ameaças e outras provocações, as quais foram corretamente interpretadas pelo governo paquistanês como intromissão em seus assuntos internos. O objetivo dessas resoluções e provocações tem sido projetar, tanto politicamente quanto para a opinião pública, o Paquistão como Estado terrorista, o que, em virtude da lógica distorcida apresentada à população estadunidense, significa que os EEUU devem ser capazes de fazer o que quiser para eles.
Os objetivos dos imperialistas ocidentais vis-à-vis o Baluquistão têm sido, e continuam sendo, muito simples: desestabilizar a região, a fim de bloquear a China de usá-la para fazer valer seu domínio regional e continuar a promoção de seu desenvolvimento econômico. Usando as mesmas repetidas táticas de terrorismo e subversão política, eles esperam atingir esses objetivos. No entanto, diferentemente do caso da classe dominante imperialista britânica de um século atrás, os Estados Unidos precisam lidar com um Paquistão, que mantém uma forte corrente de nacionalismo, o qual rejeita a hegemonia dos Estados Unidos na região, e que tem amigos internacionalmente. Infelizmente para o povo baluqui, a classe dominante dos EEUU não aprenderam nada da história e continua a usá-lo como peões contra seu inimigo percebido em Pequim. Sem um governo forte, nacionalista em Islamabad, disposto a fazer mais do que apenas protestos formais contra as ações dos EEUU, não haverá paz no Baluquistão. Em vez disso, a situação só vai se deteriorar enquanto as oligarquias estadunidenses continuam sua busca por uma posição dominante no século 21, independentemente se o custo exigido for humano ou financeiro.

Tuesday, July 10, 2012

Desinformar sobre o conflito palestino-israelense




por Pascual Serrano*, traduzido por Vinicius C. para o Batalha de Ideias. 


Quando, por que e com que aval internacional se criou Israel? Quem vivia nessa terra antes que se criasse esse Estado? Qual é a diferença entre sionismo e semitismo? Têm os mesmos direitos todos os israelenses? Quais são as fronteiras de Israel segundo a ONU? Quantos palestinos vivem fora de sua terra? O que dizem as resoluções do Conselho de Segurança a respeito do conflito árabe-israelense? Israel cumpre essas resoluções? São perguntas básicas e lógicas que surgem aos que desejam compreender minimamente o conflito palestino-israelense e às quais não se encontrará resposta nos meios de comunicação apesar de todos os dias existirem notícias sobre a região.

As rotinas atuais dos meios de comunicação impedem conhecer todos estes antecedentes históricos e elementos de contexto imprescindíveis para compreender o conflito árabe-israelense. Com toda segurança, se um cidadão pretendesse mediante a leitura diária da imprensa e do noticiário televisivo de cada noite compreender o que acontece na região não o conseguiria. Assistiria a uma quantidade de notícias dispersas segundo as quais ontem soube que houve uma reunião de líderes, hoje que mataram dois palestinos, amanhã que um suicida explodiu em um ônibus. Servem essas informações para compreender algo?

Em junho de 2007, foi notícia [1] esporádica a difusão de uma gravação do soldado israelense capturado por Hamas um ano antes. Assim pudemos desenterrar, quase esquecida pelos meios, a detenção que provocou que o exército israelense destroçasse as infraestruturas de Gaza e matasse 400 palestinos, a metade deles civis. Só é um exemplo de como a obsessão dos meios pela imediata atualidade e seu consequente esquecimento impede que ofereçam a perspectiva necessária para compreender os acontecimentos. Por outro lado, a confusão que transmitem os meios torna impossível que as audiências entendam as diferentes posições dos atores em conflito. Se observarmos os meios de comunicação, parece que o problema é basicamente de intolerância e violência entre palestinos e judeus, sem mais elementos de aprofundamento nem contexto. Em outras muitas ocasiões, os meios se regozijam excessivamente nas “cúpulas de Chefes de Estado, viagens de governantes e similares, e em detalhes e outros episódios sem interesse, mas incrivelmente muito comentados. Trata-se, em suma, de prestar atenção a tudo menos o essencial do assunto e que a gente se perca em detalhes” [2].

Outra questão que afeta muito aos profissionais é o se sentirem coibidos por Israel por uma razão inquestionável: os judeus foram as principais vítimas de algo tão atroz como o Holocausto. “O Estado israelense vive de sua condição de vítima (condição que não é outorgada aos palestinos, apesar de serem suas vítimas) e cataloga a qualquer um que questione a atuação de seus governantes de «antissemitas»” [3].

Os jornalistas nunca recorrem à bibliografia rigorosa que pesquisa o comportamento dos israelenses com os palestinos. Obras como A limpeza étnica da Palestina, em que o historiador israelense e judeu Ilan Pappé explica que a deportação dos palestinos em 1948 fez parte de uma estratégia cuidadosamente desenhada pelos dirigentes judeus de organizações armadas (então eles punham bombas em edifícios civis como no Hotel King David de Jerusalém, com 91 mortos, ainda que ninguém lhes qualifique de “terroristas”) para combinar com a maior parte da Palestina histórica.

Os antecedentes são tão importantes para compreender o conflito árabe-israelense que um dos princípios fundamentais do governo de Israel (o único dos dois bandos que tem dinheiro, poder e influência nos meios) é tentar manipular a história a seu favor. A operação chega inclusive até Wikipedia. Em março de 2008, o portal Electronic Intifada [4], gerenciado pelo jornalista estadunidense-palestino Ali Abunimah, denunciava que o grupo israelense Comitê para a Precisão da Informação sobre o Oriente Próximo na América (CAMERA) recrutava voluntários para editar a enciclopédia on-line e impedir deste modo que os "editores anti-israelenses introduzam todo tipo de preconceitos e erros em muitos artigos relacionados com Israel" [5].

Dois pesos, duas medidas

Sem dúvida, o conflito árabe-israelense é o que mais sofre o fenômeno dos valores duplos. Noam Chomsky assinalou a diferente repercussão mediática do assassinato de um deficiente estadunidense no sequestro por um comando palestino do transatlântico Achille Lauro (outubro de 1985) que entrou nos anais do terrorismo, diante da morte, crivado de balas, de um deficiente palestino quando fugia em sua cadeira de rodas com uma bandeira branca em Yenín em 2001, condenada ao silêncio [6]. Um coletivo de personalidades destacadas na análise e crítica da situação em Israel/Palestina realizou um estudo estatístico da cobertura da Intifada palestina durante 2004 [7] em três televisões estadunidenses. Concluíram que existia uma cobertura significativamente deformada. Os meios analisados informaram de mortes de crianças israelenses com uma percentagem em média dez vezes maior que as mortes de crianças palestinas. Considerando que no período estudado morreram 22 crianças palestinas a cada criança israelense, o desequilíbrio na cobertura é evidente.

Mas vejamos exemplos mais concretos. Em junho de 2006 um jornal trouxe a manchete “Hamas rompe a trégua e reivindica o lançamento de foguetes contra Israel” [8]. No texto verificamos que foi uma resposta “ao ataque naval do exército israelense que ontem acabou com a vida de sete civis palestinos”. Em conclusão, Israel mata sete civis, Hamas responde com sete foguetes que não causam nem mortos nem feridos e quem rompeu a trégua, os que originam violência, são os palestinos. Podemos ler manchetes como “Vítima número 3.000 da Intifada palestina” [9]. Diferentemente do que se poderia pensar, não fazia referência a um israelense morto nas mãos de ativistas palestinos, mas o morto era um policial palestino assassinado em Gaza numa incursão do exército israelense. Até os palestinos são vítimas da Intifada. No imaginário da comunidade internacional as vítimas percebem-se como procedentes dos dois lados, mas estes se apresentam um como terrorista e outro como o exército regular de um governo democrático. Desde o ano 2000 até março de 2008, o exército israelense tinha assassinado a mil crianças de Anápolis, em novembro de 2007, foram assassinados 331 palestinos, entre eles 39 crianças [10]. Estaríamos, portanto, diante de uma situação na qual, em sua “luta contra o terrorismo”, Israel mata mais crianças que os soldados mortos pelo “terrorismo palestino”.

A dupla moral pode ser apreciada perfeitamente na linguagem utilizada. E ainda mais nos artigos de opinião. Podemos ler “atentados selvagens” [11], quando se referem a um ataque suicida palestino que mata três pessoas em Israel, ou “cúmulo de erros” [12] no título do editorial no dia seguinte de Israel matar um dirigente do Hamas e dez civis palestinos, entre eles três crianças e três mulheres que passavam a tarde na praia. No conflito palestino-israelense a batalha da linguagem é vital para Israel, ninguém dúvida de que a maioria dos leitores só se concentra nas manchetes e que estas costumam ser escolhidas pelos chefes de redação e não pelos correspondentes. Um exemplo é o uso de “capturado” ou “sequestrado”. Na televisão escutamos falar de um “jovem sequestrado de 19 anos” [13]. Uma forma muito peculiar para referir-se a um soldado israelense capturado pelas milícias palestinas. Podemos encontrar também uma notícia intitulada assim: “Soldados israelenses prendem o vice-primeiro ministro palestino Naser Al Shaer”. E subtitulada desta forma: “A operação enquadra-se dentro das ações de Israel contra membros do Hamas depois do sequestro do soldado hebreu Gilad Shalit no mês de junho” [14]. Observe-se que na Palestina os ministros civis e não armados que tiveram sua casa invadida por soldados hebreus são ”presos” e os militares israelenses armados que são capturados pelas milícias palestinas são ”sequestrados”. Na mesma linha, o muro não é muro senão barreira de segurança, os radicais judeus são ortodoxos enquanto os radicais palestinos são terroristas.

As fontes e os analistas

A principal distorção para a informação sobre o conflito palestino-israelense é que “os meios norte-americanos utilizam jornalistas judeus recebendo assim, em 99 por cento dos casos, uma informação distorcida e enviesada”. Conquanto os correspondentes dos meios espanhóis na região são também espanhóis, “quase a metade deles têm jornalistas judeus em seus escritórios. Nenhum conta com jornalistas, nem sequer com colaboradores, palestinos e resta dizer que os judeus não entram nos territórios palestinos tampouco nos países da região” [15]. Por outro lado, “a comodidade leva à maioria dos correspondentes ocidentais a não entrar nem em Gaza nem na Cisjordânia a não ser que seja gravíssimo o que ocorre. Gaza é um lugar incômodo, higienicamente questionável e de difícil trânsito: há um milhão de histórias a serem contadas, mas esse argumento não costuma convencer, de modo que o volume da informação que se publica sobre os palestinos é irrisório em comparação com as histórias sobre israelenses” [16].

Um mecanismo habitual dos meios de comunicação para deslizar sua linha editorial de forma não explícita é a seleção dos analistas. Sob a aparência de especialistas, mais que de comentadores, essas assinaturas reproduzem a linha política que se deseja, mediante a técnica de escolher previamente aquele que compartilha o ideário do meio. “O lobby israelense na Espanha, como no resto do mundo, é muito poderoso e ‘próximo’ a pessoas nas redações (em certas ocasiões, redatores-chefe ou até além) para reconduzir informações, questionar o vocabulário empregado e ‘vender’ comentários de ‘especialistas’, além de oferecer viagens pagas a Tel Aviv para dali ‘demonstrar’ que o muro não é muro senão barreira, que os palestinos se queixam de vício e que são um povo-vítima ameaçado por seus desagradáveis vizinhos árabes, que já nasceram com o ódio correndo por suas veias” [17].

Outro desequilíbrio é a seleção das personalidades e analistas que elegem quando abordam determinados acontecimentos. El País, um dia antes do aniversário da Nakba, data que assinala a expulsão de 750.000 palestinos, cobriu-a com uma entrevista com Daniel Baremboin, um diretor de orquestra pacifista israelense, muito respeitável, evidentemente, mas israelense; um encontro digital com o embaixador israelense na Espanha, e a chegada de Bush a Israel (que, na verdade, era Jerusalém, não Israel, matiz que ninguém faz).

A democracia israelense

Os meios reproduzem o discurso político de que Israel é a única democracia da região. Mas se trataria de “uma democracia estranha na qual os militares exercem com frequência funções-chave“. Pense, por exemplo, em Ariel Sharon, Ehud Barak, Benjamin Netanyahu, Isaac Rabín ou Menahem Begín. Todos são militares ou procedem de organizações militares. E todos chegaram a ser primeiro-ministros de Israel [18].

Anistia Internacional, no relatório intitulado “O racismo e o Ministério de Justiça”, difundido em 2001, deixava em evidência o racismo da “democracia” israelense onde várias leis são explicitamente discriminatórias já que se baseiam na premissa de um Estado judeu para o povo judeu. Em consequência, discrimi­nam aos não-judeus, em concreto aos palestinos que viveram nestas terras geração depois de geração. Em alguns casos, garantem explicitamente um tratamento preferencial aos cidadãos judeus em esferas como a educação, a moradia pública, a saúde e o trabalho [19].

Atualmente, oculta-se, ao menos, tanta informação como a que se divulga. As duras condições nas quais devem sobreviver os palestinos raras vezes se refletem nos meios de comunicação. E menos ainda em notícias unidas às políticas aplicadas pelo governo e o exército israelenses. Por exemplo, na Cisjordânia, um palestino só dispõe de 50 m3 de água ao ano para cobrir todas suas necessidades: beber, lavar-se, cozinhar, agricultura, indústria, etc. No entanto, cada colono ilegal dispõe de 2.400 m3 de água ao ano. Mas, ademais, são os palestinos os que financiam a água, porque pagam mais do dobro que um israelense pela mesma quantidade. Com a eletricidade sucede algo similar, Israel destruiu a única empresa que produzia eletricidade na Palestina e lhes impediu de comprar novos geradores pelo que têm que a comprar tudo de Israel pelo dobro do preço que paga um israelense [20].

O conflito palestino-israelense tem-se enquistado na agenda mediante o formato de difundir laconicamente partes de guerra de mortos e feridos. Quando nos chega um protagonista palestino com nomes e sobrenomes é porque temos as imagens de vídeo prévias a seu martírio, nunca aparecem os palestinos que lutam para sobreviver mediante a cooperação e a ajuda mútua.

O silenciamento também se aplica às vozes que se levantam denunciando a política israelense. Em julho de 2006, dois prêmios Nobel de Literatura, José Saramago e Harold Pinter, junto a outros dois escritores de prestígio internacional, John Berger e Noam Chomsky, difundiram um escrito titulado “Em defesa do povo palestino” [21]. Na imprensa espanhola só mereceu uma carta ao diretor do El País [22]. E isso apesar de se fazer pública em pleno massacre de um povo, uma guerra regional entre Israel e Líbano que afetava a vários países e toda a região, a crise no Conselho de Segurança da ONU e milhares de cidadãos manifestando nas ruas. A denúncia destes destacados intelectuais ficou como uma carta ao diretor, como se fosse uma queixa do vizinho pela recolhida municipal dos lixos. Isto contrasta com o trato diferente que teve, em 2003, um desses Nobel, José Saramago, quando escreveu umas breves linhas criticando umas condenações a morte em Cuba. Então mereceu o destaque nesse mesmo jornal e um privilegiado espaço como artigo de opinião que ademais foi recolhido por todos os meios e agências.


*Pascual Serrano é jornalista. Este texto é um extrato do capítulo referente à Ásia de seu livro Desinformación. Como los medios ocultan el mundo, Península, 2009.

Notas
[1] El País, 26-6-2007.
[2] Agustín Velloso. Entrevista con el autor.
[3] Mónica G. Prieto. Entrevista con la autora.
[4] http://www.electronicintifada.net/.
[5] G. Prieto, M, “¿Se puede reescribir la historia?”, El Mundo, 23-4-2008.
[6] Chomsky, N, Piratas y emperadores. Terrorismo internacion
[7] Ver http://www.ifamericansknew.org/media/net-report.html.
[8] El Mundo, 10-6-2006.
[9] El País, 1-3-2003.
[10] Ramonet, I, “Por una resistencia de masas no violenta contra Israel”, entrevista con el líder palestino Mustafá Barghouti, Le Monde Diplomatique, mayo 2008.
[11] Editorial, El País, 30-1-2007.
[12] Editorial, El País, 10-6-
[13] Tele 5, 26-6-2006.
[14] El País, 19-8-2006.
[15] Mónica G. Prieto, Entrevista con la autora.
[16] bídem.
[17] Ibídem.
[18] Véase nota 10.
[19] Informe de Amnistía Internacional, de 2001: Racism and the Administration of Justice (Racismo y el Minis terio de Justicia).
[20] Véase nota 10.
[21] Se puede encontrar en Rebelion y http://www.rebelion.org/noticia.php?id=34982.
[22] El País, 21-7-2006.
o original em espanhol pode ser lido em: http://www.revistapueblos.org/spip.php?article2440

Thursday, July 5, 2012

VIVA O 5 DE JULHO!!!

 

O 5 de julho é uma data histórica, muitas vezes esquecida pelos lutadores populares brasileiros. Em 5 de julho de 1922, levantavam-se os 18 tenentes do Forte de Copacabana, no Rio, que seriam masssacrados pelas tropas do presidente Arthur Bernardes, ao marcharem contra os fuzis legalistas por justiça social. Em 5 de julho de 1924, Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa levantavam os tenentes em São Paulo, tomando a cidade por 20 dias e sendo bombardeados pelas tropas legalistas. A data seria o estopim da Coluna Invicta, liderada por Luiz Carlos Prestes e que atravessou 25 mil quilômetros à pé pelo Brasil, lutando contra o exército, o cangaço e implantando a justiça popular contra os governadores das cidades tomadas. Em 5 de julho de 1935, Prestes lançava o manifesto da Aliança Nacional Libertadora, subordinando o movimento tenentista ao movimento operário, e dando início ao primeiro levante popular dirigido pela classe operária organizada em partido político, violentamente esmagado por uma união do fascismo de Getúlio Vargas e de Hitler. Para lembrar a data, o Batalha de Ideias reproduz o Manifesto de 5 de Julho, destacando os pontos de reivindicação da ANL.

 

A todo povo do Brasil!

Luiz Carlos Prestes, 5 de julho de 1935



Aos aliancistas de todo o Brasil! 5 de julho de 1922 e 5 de julho de 1924. Troam os canhões de Copacabana. Tombam os heróis companheiros deSiqueira Campos! Levantam-se, com Joaquim Távora, os soldados de São Paulo e, durante 20 dias é a cidade operária barbaramente bombardeada pelos generais a serviço de Bernardes! Depois . . . a retirada. A luta heróica nos sertões do Paraná! Os levantes do Rio Grande do Sul! A marcha da coluna pelo interior de todo o país, despertando a população dos mais ínvios sertões, para a luta contra os tiranos, que vão vendendo o Brasil ao capital estrangeiro.

Quanta energia! Quanta bravura!

As lutas continuam - São 13 anos de lutas cruentas, de combates sucessivos e vitórias seguidas das mais negras traições, ilusões que se desfazem, como bolhas de sabão, ao sopro da realidade!

Mas as lutas continuam, porque a vitória ainda não foi alcançada e o lutador heróico é incapaz de ficar a meio do caminho, porque o objetivo a atingir é a libertação nacional do Brasil, a sua unificação nacional e o seu progresso e o bem-estar e a liberdade de seu povo e o lutador persistente e heróico é esse mesmo povo, que do Amazonas ao Rio Grande do Sul, que do litoral às fronteiras da Bolívia, está unificado mais pelo sofrimento, pela miséria e pela humilhação em que vegeta do que uma unidade nacional impossível nas condições semicoloniais e semifeudal de hoje!

Aliança Nacional Libertadora - Nós, os aliancistas de todo o Brasil, mais uma vez, levantamos hoje bem alto a bandeira dos 18 do Forte, a bandeira de Catanduvas, a bandeira que tremulou em 1925 nas portas de Teresina, depois de percorrer de Sul a Norte todo o Brasil! A Aliança Nacional Libertadora é hoje constituída pela massa de milhões que continua as lutas de ontem! A Aliança Nacional Libertadora é hoje a continuadora dos combates que, pela libertação do Brasil, do jugo imperialista, iniciaram Siqueira CamposJoaquim TávoraPortelaBenévoloCleto Campello, Janson de Mello, Djalma Dutra, e milhares de soldados operários e camponeses em todo o Brasil.

Somos herdeiros das melhores tradições revolucionárias de nosso povo e é, recordando a memória de nossos heróis, que marchamos para a luta e para a vitória!

Dias Decisivos

Brasileiros!

Aproximam-se dias decisivos.

Os trabalhadores de todo o Brasil demonstram, através de lutas sucessivas, que já não podem mais suportar e nem querem mais se submeter ao governo em decomposição de Vargas e seus asseclas nos Estados. Além disso, os cinco últimos anos deram uma grande experiência a todos em que no Brasil tiveram de suportar e sofrer a malabarista e nojenta dominação getuliana. E esses cinco anos de manobras e traições, de contradanças de homens do poder, de situacionistas que passam a oposicionistas e vice-versa, de inimigos "irreconciliáveis" que se abraçam, cinicamente, sobre os cadáveres ainda quentes dos lutadores de 1922, abriram os olhos de muita gente. Onde estão as promessas de 1930? Que diferença entre o que se dizia e se prometia em 1930 e a tremenda realidade já vivida neste cinco anos getulianos!

O Programa da Aliança Liberal

"A revolução brasileira não pode ser feita com o programa anódino da Aliança Liberal", dizia eu em maio de 1930, chamando a atenção dos companheiros da coluna para a luta contra o imperialismo e o feudalismo, sem a destruição dos quais tudo mais seria superficial, irrisório e mentiroso. "Se chegarmos ao poder, vamos controlar as empresas imperialistas, vamos evitar os abusos . . . vamos dar terra aos camponeses, sem ser necessário desapropriar grandes latifundistas, vendidos ao imperialismo", respondiam-me muitos deles. São passados cinco anos e todos os que honestamente assim pensaram já devem estar convencidos das utopias reacionárias que defendiam.

Dominação dos Imperialistas

Por outro lado a crise mundial do capitalismo, na sua agravação crescente leva os imperialistas a tornarem cada vez mais clara a dominação e a exploração dos países subjugados por eles nas colônias e semicolônias como o Brasil. Quem tem a coragem, nos dias de hoje, de negar que somos explorados bárbara e brutalmente pelo capital financeiro imperialista? Somente lacaios desprezíveis e nauseabundos, como Assis Chateaubriand ouHerbert Moses, ou então os chefes e teóricos do integralismo que, compreendendo e sentindo a vontade de luta das massas contra os bancos e empresas imperialistas, tratam de desviá-la, transformando a luta contra o imperialismo, a luta do povo contra os exploradores ingleses ou japoneses em questão de raça, em luta contra o semitismo.

Novas Concessões

E dia a dia novas concessões são feitas ao capital financeiro imperialista. Já não bastam os serviços públicos, os portos, as estradas de ferro, as minas. Extensões enormes do território pátrio são entregues a empresas estrangeiras. Toda a produção nacional, fruto do trabalho hercúleo das grandes massas trabalhadoras é entregue ao fascismo hitlerista, em troca de papéis sujos, isto é, de graça para ajudar o massacre do proletariado alemão e para organizar nova guerra imperialista. As fronteiras do país são abertas em troca de sombrinhas e biombos à invasão militarmente organizada do imperialismo japonês. A pequena indústria nacional, aquela que não está nas mãos dos tubarões estrangeiros ou de seus lacaios, é ameaçada de liquidação pelos tratados comerciais com a Inglaterra, com os Estados Unidos e o Japão. Enfim, a divisão do país, em zonas de influências sobre a denominação de um outro imperialismo torna-se cada vez mais clara.

Interesses Contraditórios das Classes Dominantes

A dominação imperialista utiliza o regionalismo, os interesses contraditórios das classes dominantes, que os servem, para, aprofundando esses interesses, despedaçar o país e melhor dominá-lo. Isto se reflete, claramente, no cenário político atual. São evidentes as divergências entre os diversos clãs que apóiam o governo de Vargas, entre Salles de Oliveira e Flores da Cunha, entre São Paulo e o Nordeste. Entre os "oposicionistas", a mesma coisa é facilmente observada, que todos os esforços pela formação de um partido nacional fracassam, lamentavelmente. Continuamos na política asquerosa dos blocos sem princípios; sem programa; do bloco que está no poder e do bloco que quer o poder.

O lntegralismo

Mesmo entre os fascistas tal estado de coisas se verifica. Apesar de toda a demagogia sobre a unificação nacional, o integralismo é bem uma fotografia da podridão, da decomposição, da divisão dos interesses contradicionários entre as cliques das classes dominantes de um ou de outro Estado. E por isso a tragédia do Sr. Plínio Salgado, obrigado a dizer hoje aqui uma coisa, amanhã ali ao contrário. Daí o engraçado do disse que não disse dos chefes integralistas, que todos os partidos das classes dominantes do Brasil refletem, queiram ou não queiram, a divisão regional que tem suas origens no feudalismo e se agrava com a penetração imperialista. Essa desagregação, por sua vez, acelera a venda do país ao imperialismo que penetra por todas as brechas e por todos os lados, porque o bando que está no poder, para não perdê-lo, precisa satisfazer às menores exigências de qualquer de suas facções. O governo de Vargas tem por isso satisfeito os interesses, os mais contraditórios, de todos os magnatas estrangeiros e de seus lacaios nacionais. Despedaçando o Brasil, sufocando na miséria o povo.

Unificação Nacional

A unificação nacional é, por isso, impossível sob a dominação imperialista. Só as grandes massas juntamente com a parte da burguesia nacional, não vendida ao imperialismo, serão capazes de, através de um governo popular revolucionário, acabar com esse regionalismo, com a desigualdade monstruosa que a dominação dos fazendeiros e imperialistas impôs ao país.

Esta é a tarefa gigantesca da Aliança Nacional Libertadora, que apresenta aos olhos de todo o Brasil, como a única organização realmente nacional, única organização onde os verdadeiros interesses do povo de cada Estado coincidem com os idênticos objetivos que congregam, em todo o Brasil, de norte ao sul, de este a oeste, os lutadores contra o imperialismo e os trabalhadores de todo o país, juntamente com a parte da burguesia nacional, não vendida ao imperialismo, serão capazes de, através de um governo popular revolucionário antiimperialista.

Em Marcha Para a Ditadura Fascista

Mas as classes dominantes, que sentem já não poder dominar a vontade de luta das massas, com as armas da brutal reação, que tenham sido até hoje empregadas, dessa tão falada "liberal democracia", marcham, ostensivamente e cada dia mais abertamente, para uma ditadura ainda mais bárbara - para a ditadura fascista - forma mais brutal, mais feroz da ditadura dos exploradores. Ameaçam o povo de todo o Brasil com a ditadura de elementos terroristas, mais reacionários com a ditadura dos mais cínicos lacaios do imperialismo. Nessa direção, para chegarem a um tal governo para sufocarem os últimos direitos democráticos do povo, os elementos não reacionários das classes dominantes tratam de por um momento vencer suas próprias contradições e unir-se numa "união sagrada". Vargas encontra por baixo da "oposição" todo apoio necessário à fascistização do seu governo, ao mesmo tempo que estimula e auxilia a organização dos bandos integralistas. A "oposição", por seu lado, prepara golpes de Estado e faz esforço para substituir, por ordem de seus patrões estrangeiros, por figuras novas e menos impopulares, as que ocupam o vacilante poder atual. O governo é abertamente fascista - essa grande ameaça que se prepara entre as classes dominantes contra o povo brasileiro!

Os Dois Campos Se Definem

O duelo está travado. Os dois campos se definem, cada vez com maior clareza para as massas. De um lado, os que querem consolidar no Brasil as mais brutais ditaduras fascistas, liquidar os últimos direitos democráticos do povo e acabar a venda e a escravização do país ao capital estrangeiro. Desse modo - o integralismo, como brigada de choque terrorista da reação. De outro, todos os que nas fileiras da Aliança Nacional Libertadora querem defender de todas as maneiras a liberdade nacional do Brasil, pão, terra e liberdade para seu povo. A luta não é, pois, entre dois "extremismos" como querem fazer constar os hipócritas defensores de uma "liberal democracia" que nunca existiu e que o povo só conhece através das ditaduras sanguinárias de EpitácioBernardesWashington Luís e Getúlio Vargas. A luta está travada entre os libertadores do Brasil, de um lado, e os traidores, a serviço do imperialismo, do outro.

Posição Clara e Definida

O momento exige, de todo homem honesto, uma posição clara e definida. Pró ou contra o fascismo; pró ou contra o imperialismo! Não há meio termo possível, nem justificável. A Aliança Nacional Libertadora é, por isso, uma vasta e ampla organização de frente única nacional. O perigo que nos ameaça, o perigo que aumenta dia a dia, nos obriga a colocar em primeiro plano nos dias de hoje, a criação do bloco, o mais amplo de todas as classes oprimidas pelo imperialismo, pelo feudalismo, e, portanto, da ameaça fascista. Tal a tarefa decisiva na atual etapa da revolução brasileira. A frente única não obriga a quem quer que nela venha formar, renunciar a defesa de seus conceitos e opiniões. Não! Isso seria semear confusões entre as massas populares e enfraquecer sua força revolucionária. Reconhecendo todas as divergências políticas, que entre nós possam existir, saberemos, como revolucionários, que o momento atual exige de tudo a concentração de todas as nossas forças para luta contra o imperialismo, o feudalismo e o fascismo.

Condições Para Ingressar na ANL

Para a Aliança Nacional Libertadora precisam vir todas as pessoas, grupos, correntes, organizações e mesmo partidos políticos, quaisquer que sejam os seus programas, sob a única condição de que queiram lutar contra a implantação do fascismo no Brasil, contra o imperialismo e o feudalismo, pelos direitos democráticos. E a todas as pessoas e correntes, que queiram, por quaisquer motivos, restringir essa frente única nacional revolucionária, devemos opor a vontade férrea de sua realização. Todas as pessoas, grupos, associações e partidos políticos, que participam da Aliança devem impedir, com todas as forças, aquelas tentativas, denunciando os culpados, implacavelmente, como traidores do Brasil e do seu povo.

Unificação do Proletariado

As forças da Aliança Nacional Libertadora são já grandes, mas podem e devem ser ainda maiores abarcando milhões porque, com o seu programa, estão todos os que trabalham no país, todos os que sofrem com a dominação imperialista e feudal, em primeira linha o proletariado e as grandes massas do campo. A unificação do proletariado, tendência já invencível, que se sobrepõe a todas as dificuldades opostas pela reação, é uma das maiores forças da revolução. E as greves dos últimos tempos aumentam, cada vez mais, a capacidade de luta do heróico proletariado do Brasil e a confiança que a todos os revolucionários brasileiros inspiram como classe dirigente da revolução. As lutas dos camponeses, conquanto ainda espontâneas e desorientadas, são bem o indício do ódio e da energia concentrada em séculos de sofrimento e de miséria pela massa de milhões que quer melhores dias. Mas com a revolução, portanto, com a Aliança ficarão os soldados e marinheiros de todo o Brasil.

As Classes Armadas

Com a Aliança ficarão os melhores oficiais das forças armadas do país, todos aqueles que serão incapazes de conduzir seus soldados contra os libertadores do Brasil e muitos dos quais já demonstraram, em lutas anteriores, que ficarão com o povo contra o imperialismo, o feudalismo e o fascismo. Como antes de 1838, os militares do Brasil jamais se prestarão ao papel de capitães-do-mato, a serviço do imperialismo e seus lacaios no país. Com a Aliança estarão todos os heróicos combatentes dos movimentos armados que se sucedem no país, desde 1922.

Os Que Ficarão Com a Aliança

Com a Aliança formará a juventude heróica de São Paulo, que pensou defender, nas trincheiras, em 1932, a democracia e a liberdade contra a ditadura de Vargas e que vê, hoje, seus chefes, nos rega-bofes do governo. Com a Aliança estarão todos os intelectuais honestos, o que há de mais vigoroso e capaz na intelectualidade brasileira, todos os que não podem concordar com o obscurantismo fascista e a liquidação dos últimos direitos democráticos do povo, todos os que querem defender a cultura do nosso povo. Com a Aliança estará a juventude trabalhadora estudantil do país, lutando por melhores dias e por um futuro mais claro, disposta a dar todo o seu entusiasmo e energia, para a luta, para a libertação nacional do Brasil, na qual vai ocupar os postos mais avançados. Com a Aliança estarão as mulheres do Brasil, trabalhadoras manuais, intelectuais, donas-de-casa, mães de família, irmãs, noivas e filhas de trabalhadores, elas formarão na Aliança porque, apesar das mentiras e calúnias da imprensa venal, elas compreendem e entendem que só a Aliança poderá defender o pão para seus filhos e acabar com a brutal exploração em que vivem.

Liberdade de Crença

As mulheres religiosas como todas as pessoas religiosas católicas, protestantes, espíritas ou positivistas, desejam acima de tudo a liberdade para seus cultos e essa liberdade é defendida pela Aliança; estão mesmo os padres brasileiros, os mais pobres e que, entrando para a igreja não se venderam ao imperialismo, nem esqueceram seus deveres frente ao povo. É natural que os chefes da igreja, os ricos e bem nutridos cardeais e arcebispos, como membros das classes dominantes, e lacaios do imperialismo, estejam contra a Aliança. Já noutras épocas, Frei Caneca, Padre Miguelinho e muitos outros lutaram ao lado do povo, pela independência do Brasil, contra a vontade dos bispos e arcebispos que os mandaram assassinar.

Privilégios da Raça, Cor e Nacionalidade

Com a Aliança estarão os pequenos comerciantes, os pequenos industriais, que, comprimidos entre os impostos e monopólios imperialistas de um lado e a miséria cada vez maior da massa popular do outro, ganham cada dia menos e, à medida que se pauperizam vão passando a simples intermediários mal remunerados da exploração do povo pelo imperialismo e pelos impostos indiretos. Com a Aliança estarão todos os homens de cor do Brasil, os herdeiros das tradições gloriosas das Palmares, porque só a ampla democracia, de um governo realmente popular, será capaz de acabar para sempre com todos os privilégios de raça, de cor ou de nacionalidade, e de dar aos pretos no Brasil a imensa perspectiva da liberdade e igualdade, livre de quaisquer preconceitos reacionários, pela qual lutam com denodo há mais de três séculos.

Programa Antiimperialista

Não há pretextos que justifiquem, aos olhos do povo, a luta contra a Frente única Libertadora. É por isso que as fileiras da Aliança Nacional Libertadora estão abertas a todos os que querem lutar pelo seu programa antiimperialista, antifeudal e antifascista, programa que somente o governo popular revolucionário realizará:

I - Não pagamento das dívidas externas, nem seu reconhecimento.

II - Denúncia dos tratados anticomerciais com o imperialismo.

III - Nacionalização dos serviços públicos mais importantes e das empresas imperialistas que não se subordinem às leis do governo popular revolucionário.

IV - Jornada máxima de trabalho de oito horas, seguro social, aposentadorias, aumento de salários, salário igual para igual trabalho, garantia de salário mínimo, satisfação dos demais pedidos do proletariado.

V - Luta contra as condições escravistas e feudais do trabalho.

VI - Distribuição entre a população pobre camponesa e operária das terras e utilização das aguadas, tomadas sem indenização aos imperialistas, aos grandes proprietários mais reacionários e aos elementos da igreja, que lutam contra a liberdade do Brasil e a emancipação do povo.

VII - Pelas mais amplas liberdades populares, pela completa liquidação de quaisquer diferenças ou privilégios de raça, de cor ou de nacionalidade, pela mais completa liberdade religiosa e a separação da Igreja do Estado.

VIII - Contra toda e qualquer guerra imperialista e pela estreita união, com as Alianças Nacionais Libertadoras dos demais países da América Latina e com todas as classes e povos oprimidos.

Divulgação dos Princípios

O realismo brasileiro de um tal programa é inegável e o entusiasmo com que todo o Brasil, as mais vastas massas trabalhadoras procuram as fileiras da Aliança Nacional Libertadora é a melhor das demonstrações. Nem o governo reacionário de Vargas, nem nenhuma outra ditadura militar fascista ou semifascista poderá oferecer uma resistência séria à Frente Única Nacional Libertadora se essa souber, realmente, mobilizar as mais amplas massas populares. Para isso precisamos, ao mesmo tempo que unificamos e congregamos na Aliança Nacional Libertadora todas as pessoas, grupos, correntes, organizações e partidos políticos, que quiserem lutar pelo seu programa, precisamos criar a Frente Única Libertadora em cada fábrica, empresa, casa comercial, universidades, quartéis, navio mercantil ou de guerra, nos bairros, nas fazendas, organizando a luta diária de tais massas.

Libertação Nacional do Brasil

Aliança Nacional Libertadora precisa englobar todas as organizações de massas, precisa e deve verdadeiramente representar o povo e saber lutar efetiva e conseqüentemente, pelos seus interesses. A Aliança Nacional Libertadora já representa a enorme força revolucionária do nosso povo e a sua incomensurável vontade de sacrifícios para a luta pela libertação nacional do Brasil. Os últimos acontecimentos de Petrópolis e o vigor com que o povo de São Paulo levou os chefes integralistas a uma retirada medrosa, dizem do que será capaz a Frente única Nacional.

Implantação de Um Governo Popular

Marchamos, assim, rapidamente, à implantação de um governo popular revolucionário, em todo Brasil, um governo do povo contra o imperialismo e o feudalismo e que demonstrará na prática, às grandes massas trabalhadoras do pais, o que é a democracia e a liberdade. O governo popular, executando o programa da Aliança unificará o Brasil e salvará a vida dos milhões de trabalhadores, ameaçado pela fome, perseguido pelas doenças e brutalmente explorado pelo imperialismo e pelos grandes proprietários. A distribuição das terras dos grandes latifúndios aumentará a atividade do comércio interno e abrirá o caminho a uma mais rápida industrialização do país, independentemente de qualquer controle imperialista. O governo popular vai abrir para a juventude brasileira as perspectivas de uma nova vida garantindo-lhe trabalho, saúde e instrução. A força das massas, em que se apoiará um tal governo, será a melhor garantia para a defesa do país contra o imperialismo e a contra-revolução. O exército do povo, o exército nacional revolucionário será capaz de defender a integridade nacional contra a invasão imperialista, liquidando, ao mesmo tempo, todas as forças da contra-revolução.

Como o Poder Chegará às Mãos do Povo

Mas o poder só chegará nas mãos do povo através dos mais duros combates. O principal adversário da Aliança não é somente o governo podre deVargas, são, fundamentalmente, os imperialistas aos quais ele serve e que tratarão de impedir por todos os meios, a implantação de um governo popular revolucionário no Brasil. Os mais evidentes sinais da resistência que se prepara no campo da reação já nos são dados pelos latidos da imprensa venal vendida ao imperialismo. A situação é de guerra e cada um precisa ocupar o seu posto. Cabe à iniciativa das próprias massas organizar a defesa de suas reuniões, garantir a vida de seus chefes e preparar-se, ativamente, para o assalto.

"A idéia do assalto amadurece na consciência das grandes massas." Cabe aos seus chefes organizá-las e dirigi-las.

Um Apelo

População trabalhadora de todo o país! Em guarda, na defesa de seus interesses! Venha ocupar o seu posto com os libertadores do Brasil!

Soldado do Brasil! Atenção! Os tiranos querem jogar-te contra os teus irmãos. Em luta pela liberdade do Brasil!

Soldado do Rio Grande do Sul, heróico herdeiro das melhores tradições revolucionárias da terra gaúcha! Prepara-te! Organiza-te! Porque só assim poderás voltar contra os tiranos que te oprimem às armas com que eles querem eternizar a vergonha dos dias de hoje!

Democratas honestos de todo o Brasil! Heróico povo de Minas Gerais, terra tradicional das grandes lutas pela democracia! Só com a Aliança Nacional Libertadora poderás continuar as lutas iniciadas pelos seus antepassados! Nortistas e nordestinos! Reserva formidável das grandes energias nacionais! Organiza-te para a defesa de um Brasil que te pertence!

Camponês de todo o Brasil, lutador do sertão do Nordeste! O governo popular revolucionário te garantirá a posse das terras e dos açudes que tomares! Prepara-te para defendê-la!

Brasileiros! Todos vós que estais unidos pela idéia, pelo sofrimento e pela humilhação de todo Brasil! Organizai o vosso ódio contra os dominadores transformando-o na força irresistível e invencível da Revolução brasileira! Vós que nada tendes para perder, e a riqueza imensa de todo Brasil a ganhar! Arrancai o Brasil da guerra do imperialismo e dos seus lacaios! Todos à luta para a libertação nacional do Brasil! Abaixo o fascismo! Abaixo o governo odioso de Vargas! Por um governo popular nacional revolucionário.

Todo o poder à Aliança Nacional Libertadora.

Luiz Carlos Prestes.