FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS DA COLÔMBIA-EXÉRCITO DO POVO (FARC-EP)
Declaração pública
Acerca da paz e da solução política ao conflito interno Juan Manuel Santos, em uma nova mostra de desespero, expressou ante o país no passado 11 de junho, na Escola Militar José María Córdoba, que se as guerrilhas estávamos falando de paz era graças à contundência das Forças Armadas. E acrescentou outra manifestação que diz muito de seu compromisso com a reconciliação e a paz democrática: só se produzirá a possibilidade de diálogos quando se tenha a segurança de que estes se realizarão “sob nossas condições e nosso domínio".
Tão disparatada interpretação da realidade põe a nu a concepção que inspira o discurso oficial. A via pacífica, democrática, dialogada, para solucionar o gravísimo conflito que assola a Colômbia tem sido bandeira das FARC desde seu nascimento. Levantou-a o movimento agrário de Marquetália ao conhecer-se em1962 a projetada agressão oficial. A guerra, a repressão violenta da organização popular e da oposição política, têm sido o histórico mecanismo de dominação da oligarquía colombiana e de seu amo imperialista.
A intolerância do regime corresponde-se com os interesses hegemônicos do grande capital multinacional, expressos para nosso continente desde o chamado Consenso de Washington. Livre comércio, privatizações, flexibilização trabalhista, abertura total ao investimento estrangeiro direto, isto é, a mais pura ortodoxia neoliberal no campo da economia, requer para sua imposição a absoluta dominação ideológica e cultural no campo da política.
O extraordinário esforço de Santos por entregar em lotes o território nacional às corporaciones mineiras e agroindustriais, seu desprezo pelas condições de vida das comunidades e as condições trabalhistas da mão de obra colombiana, seus reiterados privilégios ao grande capital em desrespeito ao meio ambiente e à produção nacional têm sido convertidos em dogmas sagrados. A ninguém se permite pô-los em dúvida ou os discutí-los. Trata-se nem mais nem menos que dos direitos do capital, bem mais importantes que os direitos da sociedade, os direitos humanos ou qualquer outra categoria de direitos.
Se até hoje, apesar dos sucessivos espaços conquistados pela luta popular para falar de paz nos últimos 30 anos de história, tem sido impossível chegar a um acordo de solução dialogada, tem sido precisamente pela negação das classes dominantes em admitir a mínima variante em seus projetos de dominação econômica e política. Isso volta a se pôr a nu com o atual governo.
Uma das vítimas do Terrorismo de Estado colombiano, uma mulher assassinada no bairro Policarpa no município de Apartado só por ser militante da União Patriótica, movimento político fundado em 1985 como resultado do acordo de Cessar Fogo entre o governo de Belisario Betancourt e as FARC-EP. Mas o estado cometeu a um genocídio político contra a UP, assassinando quase 5.000 de suas melhores quadros.
O que o regime pretende às custas das FARC e dos direitos da imensa maioria de compatriotas é relegitimar ante o concerto mundial seu modelo terrorista de Estado. Apagar de um a tacada a horrível e longa noite de crimes e horror mediante a qual o grande capital e os latifundiários, representados nos poderes públicos, têm acumulado fortunas e propriedades para adiantar seus gigantescos projetos de enriquecimento. Por isso se escuda hipocritamente em uma suposta intervenção da justiça internacional na contramão dos alçados.
Não são os guerrilheiros colombianos quem devem responder pelas práticas atrozes e genocidas que o Estado colombiano, por mão de suas forças armadas oficiais e paramilitares, sob a orientação das agências de inteligência norte-americanas e do Pentágono, se encarregou de praticar de modo sistemático contra sua população durante muitas décadas.
Não vai ser à custa de acusações infames e gratuitas contra a luta popular, que os gorilas e monstros que têm ensanguentado e semeado a Colômbia de tumbas vão salvar sua responsabilidade, como de modo cínico se consagra no chamado marco legal para a paz. O descaro do Congresso que o expede se reforça com a vergonhosa reforma judicial recém aprovada nas instâncias do governo.
A retórica de Santos põe a cada dia mais ao nu seu verdadeiro conteúdo. O único acordo de paz que espera é um contrato de adesão, no que uma guerrilha arrependida e chorosa se renda de joelhos ante o grande capital, agradecido de ter sido perdoada como o filho pródigo. Um ícone econômico, militar, ideológico, político e cultural para vender material mentiroso sobre sua dominación de classe ante a sociedade inteira, o triunfo hegemônico do capitalismo selvagem.
Tão elitista e soberba é sua atitude oligárquica, que pretende centrar o debate em se o Comandante das FARC pode ser ou não congressista, como se se tratasse de que a luta do povo colombiano e a insurgencia apontasse mal a uma simples reinsersão em seu podre regime político.
Agora se tenta pôr ao senhor Uribe a desempenhar o papel que em seu tempo jogara o senador Álvaro Gómez Hurtado, como uma espécie de símbolo da ultradireta, que deve ser manejado com cuidado e comprazer, quando não estivesse de acordo com ele em tudo. O Partido Liberal compartilhava o poder com o filho de Laureano, tal e como faz Santos com seu publicitado rival hoje. O povo colombiano aprende da história, a oligarquía parece que não, e faz questão de repetí-la neciamente.
Mais claro não podemos falar. A solução política ao conflito colombiano é parte inseparável de nosso acervo ideológico e político, não é o produto de nenhuma pressão militar.
As FARC-EP somos povo colombiano em armas, seguimos combatendo e seguiremos combatendo até que desapareçam as causas que deram origem e seguem alimentando o conflito colombiano. Nossa vontade de paz se demarca nesse critério elementar. O regime político, o manejo econômico e social do país requerem profundas reformas que devem nascer do debate aberto e democrático com todas as forças do país. Não entendemos por que se Santos deseja tanto a paz, tem tanto temor a isso.
Agora fala de drones e outras loucuras, como se o que a Colômbia requeresse fossem mais mortes e derroche. O que a nação colombiana está reclamando a gritos em ruas e praças é que se abram as portas do diálogo e da reconciliação, que se lhe dê a real oportunidade e o direito a falar, a expor, a se mobilizar e decidir a respeito do futuro do país.
SECRETARIADO DO ESTADO MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 22 de junho de 2011
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