traduzido por Vinicius C. para o Batalha de Ideias.
O uso estadunidense de drones para matar um alvo recebeu corretamente uma atenção considerável da mídia durante a semana passada. Desde o início de 2012, os Estados Unidos intensificaram o seu programa de assassinatos por drones no Iêmen, enquanto continuam a lançar ataques aéreos no Paquistão apesar dos repetidos apelos das autoridades paquistanesas para que parem. Listas negras e execução extrajudicial de suspeitos, uma vez vistas como completamente inaceitáveis pela comunidade global (e para a grande maioria, ainda o é), agora parecem ter se tornado quase uma questão de rotina para os Estados Unidos e seu presidente.
Jornalistas, analistas - e agora igrejas – têm, com razão, investigado e criticado este uso particular de aviões, e tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido obstáculos legais estão em andamento para evitar mais ataques e para revelar mais detalhes sobre o processo.
Mas é importante lembrar que o assassinato seletivo não é o único problema com os aviões não-tripulados.
No início desta semana eu participei de uma discussão online sobre o uso de drones organizada pelo think tank canadense CIC. O autor e especialista em drones Peter Singer e a professora de Ética e Direito em Oxford, Jennifer Walsh, argumentaram que não havia nenhum problema particular com os drones por si sós. Eles argumentavam (como a maioria dos analistas) que não é o desenvolvimento e a utilização da tecnologia armada remota que é o problema, mas sim o fato de estar sendo empregada fora dos conflitos armados 'oficiais' para a realização de assassinatos seletivos. Só para ficar muito claro, o uso de drones para realizar assassinatos distantes de qualquer campo de batalha é um problema muito sério que deve ser investigado e impedido.
Mas não é só o fato de que os drones têm permitido a expansão do assassinato seletivo. O problema com drones vai mais fundo do que isso.
Simplificando, a tecnologia não-tripulada armada e o conceito de "guerra remota" alteram o saldo das opções disponíveis para os nossos líderes políticos e militares em favor de uma resposta militar. Os drones estão fazendo o custo político de uma intervenção militar muito inferior ao que costumava ser anteriormente.
Antes do advento dos drones (e particularmente desde a guerra do Vietnã), a antipatia pública em arriscar vidas em guerras no exterior fez com que o equilíbrio das opções disponíveis para os nossos líderes pesasse mais para o lado da intervenção política e não militar (com exceções notáveis, é claro). Agora, no entanto, as escalas mudaram na direção oposta e os drones permitem que os nossos dirigentes políticos intervenham militarmente no exterior com o lançamento de ataques remotos a grandes distâncias sem risco para suas próprias forças. Embora alguns argumentem que foi possível lançar ataques a grandes distâncias por muitos anos usando mísseis de cruzeiro, por exemplo, é a capacidade do drone em pairar e sobrevoar cidades e recintos por muitas horas e dias em vez de um "tiro one-off" de um míssil de cruzeiro que faz a diferença crucial.
Embora estejamos ainda no começo da era das guerras com drones, o fato de que os Estados Unidos usaram aviões não tripulados para lançar ataques em seis países diferentes em 2011 - Iraque, Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Somália e Líbia - mostra como é muito mais fácil agora realizar intervenções militares.
Acimo disto, há a preocupação de que os drones também podem tornar muito mais fácil lançar ataques dentro de cenários particulares de guerra.
De acordo com o Bureau de Jornalismo Investigativo (TBIJ), houve cerca de 330 ataques norte-americanos com drones no Paquistão e cerca de 40 ataques aéreos no Iêmen. Embora os conflitos no Afeganistão e Iraque sejam as primeiras guerras 'oficiais' nas quais drones armados foram utilizados de uma forma sustentada e abrangente, não há ainda nenhuma análise pública do impacto de aviões não-tripulados nesses conflitos. Dado que os Estados Unidos têm dez vezes a quantidade britânica de cinco drones Reaper armados no Afeganistão - e os drones da Grã-Bretanha lançaram mais de 250 ataques aéreos - é bem provável que tenham havido mais de 2.000 ataques aéreos no Afeganistão (embora esta seja apenas uma estimativa).
Devido ao sigilo que envolve o uso de drones armados, é difícil, nesta etapa, dizer definitivamente que a natureza "livre de riscos" dos drones está realmente aumentando a freqüência dos ataques. No entanto, um relatório militar oficial dos Estados Unidos num ataque em fevereiro de 2010, que resultou na morte de civis afegãos, atestou que os pilotos de drones em Creech "tiveram uma propensão / viés para operações cinéticas".
Sabemos que os drones estão sobrevoando determinadas áreas, cidades e regiões por horas e dias à procura de "alvos de oportunidade" e isso é motivo de séria preocupação. Laura Arbour, ex-comissária das Nações Unidas pelos Direitos Humanos e, atualmente, chefe do International Crisis Group, alertou ao crescente uso de aviões não-tripulados recentemente. "O mais grave é o segredo que envolve essas operações, somado ao fato de que eles são mais utilizados isolados, em áreas de difícil acesso, o que torna praticamente impossível determinar se eles são usados em conformidade com as leis da guerra".
Embora seja certo e importante que exista uma crescente condenação ao uso de drones para assassinato seletivo, precisamos também desafiar a crescente utilização da tecnologia de armas não-tripuladas em si. Sem dúvida alguém responderá com o clichê de que "armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas". E como a maioria dos clichês, há um elemento triste de verdade nisso. E os outros vão dizer também que os drones não são intrinsecamente maus, como bombas de fragmentação ou minas anti-pessoais, por eles poderem ser usados de outras formas que não para matar. Porém, os drones armados, por sua natureza e pelo modo como são projetados para serem usados, tornam simplesmente o mundo um lugar mais perigoso.
o original está em http://dronewarsuk.wordpress.com/
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