Acabam de ser colocadas em São Paulo as regras do jogo, e elas foram dadas por ninguém menos que o duplamente fracassado José Serra, que acaba de lançar sua candidatura à Presidência da República em 2014, coisa que vai, para a população de São Paulo, muito além da aporrinhação de ter de aturá-lo na campanha pela prefeitura da capital do estado em 2012.
Fato: Os grandes meios de comunicação, pertencentes à parte mais inconsequente, desmiolada e entreguista de nossa classe dominante, já começaram sua ofensiva. Serra nem foi ainda aprovado como candidato dentro de seu próprio partido e a Globo, a Folha e o Estado de São Paulo já funcionam como um verdadeiro orgão porta-vozes de sua campanha. Mostram e remostram pesquisas de intenção de voto onde Serra aparece com quase 30%. Só não falam que a realidade é bem outra, com o candidato tucano atingindo um índice estarrecedor de rejeição na população paulistana, que chega a outros 30%.
Um episódio espalhado pela rede do terrível "deslize" de Serra chamando o Brasil de "Estados Unidos do Brasil (nome que o país tinha até 1968)" pareceria ridículo se não fosse aterrorizante, conhecidas as proximidades do candidato tucano (e da parcela da burguesia que ele representa) com os Estados Unidos da América.
Foi o próprio FHC quem disse, durante a mesma campanha, que a "alma" das privatizações da era de terror neoliberal em nosso país havia sido o próprio José Serra. Ora, não é segredo para ninguém que o maior impulso à depredação do patrimônio público brasileiro através da forma privatizadora assumida pelo governo durante os anos 1994 - 2002 foi criado e teorizado pelos próprios Estados Unidos quando a crise estrutural do capitalismo começou a bater às suas portas pela primeira vez, durante a década de 70. Para se ter uma ideia, quase 90% das exportações brasileiras ao final da década de 1990, após a pilhagem neoliberal, iam para os Estados Unidos.
O neoliberalismo, política econômica criada pela Santa Aliança anticomunista (Reagan nos EUA, Thatcher nao Reino e Kohl na Alemanha Federal) da década de 70, serviu para aumentar a exploração dos países subdesenvolvidos e acumular capital para desferir o "golpe final" na União Soviética. Acabada a União Soviética, adivinhe qual dos objetivos permaneceu? Pois foi o que vimos acontecer no Brasil e em outros países da AL durante os anos 90, sob a égide de FHC e a politicagem de Serra. Um pouco mais da cara do neoliberalismo nos anos 2000 pode-se entender por este artigo aqui. Um outro artigo, que revisita os 20 anos do PSDB no poder em São Paulo, pode ser lido aqui.
A campanha eleitoral de 2012, como tem sido afirmado por muitos, inclusive pelos porta-vozes da classe dominante, é um ensaio para o que vem por aí em 2014. É um teste para que a direita saiba como vai se reconfigurar nas próximas eleições presidenciais, se aguenta ficar mais tempo no PSDB ou se precisará de outro invólucro, que permita ainda mais abertamente a disseminação de sua política de ódio e pilhagem contra a classe trabalhadora. A questão vai muito além de Serra, Haddad, Netinho ou Francine.
Tudo fica muito claro quando percorremos os fatos e percebemos que a parcela da classe dominante derrotada três vezes pelo PT em âmbito nacional se reagrupa à partir de seu quartel-general histórico, o estado (e a cidade) de São Paulo. A violência das repressões ao Pinheirinho, aos estudantes da USP e à higienização da cracolândia condiz com o ideário fascista com que tais ações foram justificadas e mostra São Paulo como tubo-de-ensaio para um possível recrudescimento da ofensiva fascista da classe dominante.
Mais ainda: o ensaio da direita não limita-se à ofensiva militar e ideológica. A classe trabalhadora de São Paulo vive também ataques violentos de um incipiente e experimental setor paramilitar (ataques a moradores de rua, à população LGBT na paulista) ligado às classes médias e médias altas que reproduz o discurso higienista da direita no poder há quase 25 anos. Aqui um artigo analisando o avanço da extrema direita no centro-sul do país.
Quem fizer as contas verá que a onda das agressões fascistas começaram à época da campanha de Serra/Alckmin em 2010, quando a revista Veja deu voz a um movimento de ódio contra os migrantes nordestinos. A onda recurdesceu quando dos vários ataques paramilitarescos a homossexuais na região do centro (imediatamente após a vitória de Dilma, quase num sinal de protesto) e culminou com a institucionalização da violência, primeiro contra os estudantes da USP, depois com a "limpeza" da Cracolândia e o ataque brusco e ilegal ao Pinheirinho.
É uma conhecida tática de guerra. Certamente um golpe poderoso foi desferido na direita neoliberal com a vitória e a manteneção do governo do PT. Mas não foi ainda um golpe fatal, e São Paulo é a prova disso. Feridos, se reagrupam e testam novas e mais violentas estratégias de apelo popular, especialmente à nova classe média. As eleições de 2012 mostrarão quais aparelhos da direita estão ainda saudáveis e quais devem ser reformulados para que comportem uma tática mais fascista, mais alinhada à da burguesia imperialista gringa. Quanto tempo mais ficaremos presos nas ilusões de que o "Estado Democrático de Direito" está acima das classes? Os inimigos da classe trabalhadora já mostraram os dentes e começam a ensaiar em São Paulo a forma como irão abocanhar o resto do Brasil. Trata-se de dar uma resposta organizada e à altura.
por Diego Fernandes, para o Batalha de Ideias.
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